sexta-feira, 19 de junho de 2009

A Moral no Antigo Testamento

Arquivado em: Biblia — Prof. Felipe Aquino at 9:50 pm on quarta-feira, maio 14, 2008
Os homens da antiguidade, mesmo os mais chegados a Deus, tinham mentalidade primitiva e, praticavam o que hoje para nós seriam “escândalos morais” - mentira, fraude, crueldade para com os adversários, concubinato, poligamia. D. Estevão Bettencourt em seu livro “Para entender o Antigo Testamento” (editora Lúmen Christi), nos ajuda a entender esta realidade.
Os textos bíblicos que narram coisas desse tipo deixam chocado o leitor que não se dá conta da moral primitiva desses homens. Pode parecer que nem a consciência repreendia os israelitas que assim procediam, e que nem o próprio Deus os censurava.
Antes de tudo é preciso saber que nem tudo que o Antigo Testamento narra é proposto como “norma de conduta” para nós. Nem todas as ações de um herói (como Sansão, por exemplo) de um livro inspirado por Deus, são inspiradas. A Bíblia não tem erro de doutrina, verdades de fé reveladas por Deus, mas pode ter falhas de outra natureza. A Igreja, assistida pelo Espírito Santo, sabe fazer este discernimento, e é para isto que Jesus deixou o Magistério sagrado do Papa e dos Bispos. A Igreja sabe encontrar as verdades dogmáticas transmitidas mesmo através de histórias às vezes “não edificantes”.
Os “escândalos” narrados no Antigo Testamento fazem parte da miséria dos filhos de Adão. Então, ao se defrontar com os episódios de “barbárie” das Escrituras antigas, não devemos nos prender no aspecto repugnante que eles podem ter; devemos saber passar além da aparência superficial, e olhar “para dentro desses acontecimentos” com o olhar de Deus. Assim, também eles nos falarão de algo muito sublime.
Às vezes no Antigo Testamento os homens considerados justos (Abraão, Moisés, Davi,…) cometem atos ao nosso critério pecaminosos. Para entender esta dificuldade é preciso que consideremos o problema dentro de um quadro à luz de Deus, e não simplesmente do nosso ponto de vista de homens do século XXI.
As obras de Deus são lentas, basta ver como a natureza se desenvolve: a grande árvore começa de uma semente… Também na ordem moral isto ocorre, especialmente no que diz respeito à consciência humana da humanidade. Basta ver como a consciência da criança se desenvolve até a fase adulta. Só aos poucos é que a criança ou o adolescente vai percebendo as conseqüências concretas daquilo que nos diz a consciência: “faça o bem, evite o mal”.
Com o gênero humano inteiro aconteceu algo semelhante ao que se dá com toda criança: nos primórdios da história, os homens tinham uma consciência moral pouco desenvolvida, a qual foi se tornando mais apurada e sensível através dos séculos. Deus agiu assim com o homem, de maneira pedagógica.
Isto aconteceu com o povo de Deus, portador da verdadeira fé. Este povo também possuía uma consciência moral ainda embrionária. Sabiam que era preciso “fazer o bem e evitar o mal”, e obedecer a Vontade de Deus; mas na prática este princípio escapava à sua percepção. Jesus fez o mesmo com os Apóstolos. Na última Ceia Ele lhes diz: “Ainda tenho muitas coisas para dizer-lhes, mas vocês não as podeis entender agora. Quando vier o Paráclito…” (Jo 16,12). Só depois de Pentecostes é que os Apóstolos entenderam muitas coisas.
Deus respeita o lento desabrochar da natureza. Esse desabrochar da consciência humana deveria acontecer pela reflexão dos homens de todos os tempos, e pela meditação da Revelação de Deus.Assim, por esses dois meios – reflexão e Revelação - a consciência do povo de Deus foi se aperfeiçoando, desde a moralidade simples dos Patriarcas do Antigo Testamento até à lei de Cristo – a caridade. O caminho foi lento e árduo por causa das conseqüências do pecado original que enfraqueceram a inteligência e a vontade do homem.
Deus, para preservar a verdadeira fé e a esperança messiânica no mundo idólatra, escolheu Abraão e sua posteridade para formar o povo e onde nasceria o Messias. Não se pode esquecer que essa gente, oriunda de ambiente pagão (Mesopotâmia), recebeu de seus antepassados na Caldéia, muitas tradições e costumes supersticiosos. Deus teve que polir e elevar esta gente até à altura do culto do verdadeiro Deus; mas não quis cortar bruscamente todas essas tradições, pois seria antipedagógico, e não seria entendido.
Inicialmente Deus fez o essencial, eliminou, rigorosamente o que era estritamente Politeísta; mas quanto às outras coisas, preferiu ir devagar, contemporizando, aceitando o povo como era, seguindo práticas antigas, mas não politeístas. Assim, por meio dos profetas Deus foi fazendo com que o povo fosse se elevando espiritualmente, até um dia poder ouvir a mensagem do Evangelho: “Este é o meu preceito: que vos ameis uns aos outros, como Eu vos amei” (Jo 15, 12)”.
A consciência embrionária do povo no Antigo Testamento, não é incompatível com santidade. Em qualquer época da história, a inocência consiste em que o homem nada faça “contra a sua consciência”, nada que lhe pareça contradizer à Vontade de Deus.Veja, os grandes homens e mulheres da história sagrada, como mostra o texto bíblico, se esforçavam por não violar normas que o seu senso moral (consciência) lhes exigia e, quando por fraqueza, as violaram, se arrependeram disto sinceramente. Há muitos exemplos disso na Bíblia. Esses homens davam a Deus tudo que sabiam que deviam dar-lhe; embora “tudo”, era pouco em comparação com o padrão moral que hoje nos é proposto; mas precisavam de grande esforço.
Na medida em que a consciência não os acusassem, podiam seguir seus costumes primitivos, para nós as vezes bárbasros; e assim não deixavam de obedecer o que Deus lhes pedisse. Era esta incondicional adesão ao Senhor que os tornava justos, santos. Por isso, esses homens são modelos de santidade, para a época, não pelo aspecto exterior de sua vida (que às vezes nos assusta!), mas pelo desejo interior de cumprir a vontade de Deus e lhe ser fiel. Veja a fé de Abraão, o fervor da oração de Davi, o zelo de Elias, são modelos que devemos imitar. A Igreja não os coloca nos altares porque nem sempre suas atitudes servem hoje de modelo de vida.
Para nós que temos o conhecimento do Evangelho, seria ilícito repetir o que era praticado pelos justos do Antigo Testamento, já que a nossa consciência, iluminada por Cristo, tem agora muito mais clara noção do bem e do mal, e se torna mais exigente.O que hoje é pecado contra a lei natural sempre foi mau olhos de Deus, já que o mal não depende de mera convenção humana, mas nem sempre isto foi percebido pelos homens antigos, por causa de sua consciência moral pouco desenvolvida.Enfim, Deus quis fazer do homem seu filho, chamando-o a participar de sua vida e da sua felicidade, e para isto o foi educando pedagogicamente.
Á luz dessas explicações podemos agora compreender porque a lei de Moisés (1240 a.C.) incorporava a lei de talião. O código babilônico, de onde veio Abraão, do rei Hamurabi (1800 a.C.), prescrevia: “Olho vazado por olho vazado” (Art. 196); “membro quebrado por membro quebrado” (Art. 197); “dente espedaçado por dente espedaçado” (Art. 200); “boi por boi, carneiro por carneiro” (Art. 263); “morte ao arquiteto de uma casa que desmorone sobre o proprietário” (Cf. art. 229); “morte ao filho do arquiteto, se a casa cai sobre o filho do proprietário” (Cf. art. 230).
Com o progresso da cultura, os antigos pagãos foram percebendo a imperfeição da retribuição pelo talião. Consequentemente, admitiam que o criminoso pagasse indenização monetária, caso nisto consentisse a vítima.Ao promulgar a Lei Mosaica, Magna Carta de Israel, o Senhor quis respeitar a tradição da sua gente; para depois reformá-la aos poucos. Jesus, completando o processo pedagógico do Antigo Testamento, aboliu a lei de talião, ordenando que os discípulos perdoassem gratuitamente até os inimigos (cf. Mt. 5, 38-42, 21-15).Às vezes aparece a poligamia no Antigo Testamento, como se Deus a aceitasse. Não é bem assim. O matrimônio, quando aparece na história sagrada, pela primeira vez, é como uma união monogâmica; o Criador mesmo o instituiu e abençoou dando-lhe um valor religioso (cf. Gn 1,28; 2,23s). Por isto, o casamento é chamado “aliança de Deus” (Pr 2,17), aliança “da qual o Senhor é testemunha” (cf. Ml 2,14).
A praxe da poligamia foi reconhecida pela Lei mosaica em 1240 (cf. Dt 17, 17; 21, 15; Lv 18,18), mas isto se explica por um ato de tolerância divina. ‘E o que Jesus disse aos fariseus:“Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés o permitiu: a princípio, porém, não era assim”. (Mt 19,8)
No tempo de Abraão uma família numerosa era sinal de bênção divina, a esterilidade era vista como uma maldição (cf. Is 63, 9 e Os 9, 14; Lc 1,25). Assim, a moral da época aceitava que o marido da esposa estéril podia gerar um filho com outra mulher livre ou a escrava da sua esposa; e os filhos da escrava eram pertencentes à sua esposa. Isto era aceito com naturalidade pelos antigos judeus.
Mas, ao lado dos casos de poligamia, concubinato e divórcio reconhecidos pela Lei, houve na história sagrada, episódios que em hipótese alguma poderiam ser justificados, motivados pela fraqueza humana. Entre esses casos está o pecado de Onã (donde o nome do vício “onanismo”), que Deus puniu severamente (cf. Gn 38, 6-10); o atentado incestuoso dos sodomitas (Gs 19, 1-25); a conduta errada de Salomão, que acarretou, como punição, o cisma do reino deste monarca (cf. 1Rs 11, 1-13, 29-33). Além disso a Lei advertia o rei contra os abusos da poligamia (cf. Dt 17,17).

Viver a Bíblia ao pé da letra?

Arquivado em: Biblia — Prof. Felipe Aquino at 3:42 pm on sexta-feira, novembro 28, 2008


Algumas pessoas que não entendem bem da Bíblia, ou que foram doutrinadas em algumas seitas, pensam ainda que devemos interpretar a Bíblia ao pé da letra, de maneira fundamentalista. Ora, nada mais errado e perigoso. Por isso, o Magistério da Igreja interpreta a Sagrada Escritura, discernindo o que não pode ser mudado e o que é costume da época e que não vale mais hoje. Veja, por exemplo, os problemas que teríamos hoje se fossemos viver a Bíblia dessa forma:
Ex 21,2: “quando comprares um escravo hebreu, ele servirá seis anos; no sétimo sairá livre, sem pagar nada”. Quer dizer que então podemos comprar escravos?
Levítico 25: 44 - estabelece que posso possuir escravos, tanto homens quanto mulheres, desde que sejam adquiridos de países vizinhos. “Vossos escravos, homens ou mulheres, tomá-los-eis dentre as nações que vos cercam; delas comprareis os vossos escravos, homens ou mulheres”.
EX 21,7: “Se um homem tiver vendido sua filha para ser escrava, ela não sairá em liberdade nas mesmas condições que o escravo”.Então, podemos vender a filha como serva?
Ex 21, 15: “Aquele que ferir seu pai ou sua mãe, será morto”.Então vamos decretar a pena de morte para muita gente. Êxodo 35: 2 - claramente estabelece que quem trabalha nos sábados deve receber a pena de morte. “Trabalharás durante seis dias, mas o sétimo (sábado) será um dia de descanso completo consagrado ao Senhor. Todo o que trabalhar nesse dia será morto.” Deveríamos, então, matar todo mundo que trabalha no sábado? Levítico 21: 18- 21 está estabelecido que uma pessoa não pode se aproximar do altar de Deus se tiver algum defeito.“Desse modo, serão excluídos todos aqueles que tiverem uma deformidade: cegos, coxos, mutilados, pessoas de membros desproporcionados, ou tendo uma fratura no pé ou na mão, corcundas ou anões, os que tiverem uma mancha no olho, ou a sarna, um dartro, ou os testículos quebrados… Sendo vítima de uma deformidade, não poderá apresentar-se para oferecer o pão de seu Deus”. Lev. 19,27 proibe cortar cabelo: “Não cortareis o cabelo em redondo, nem rapareis a barba pelos lados.” Levítico 11: 6-8, quem tocar a pele de um porco morto fica impuro. “E enfim, como o porco, que tem a unha fendida e o pé dividido, mas não rumina; tê-lo-eis por impuro.” Levítico 19, 19 – “Não juntarás animais de espécies diferentes. Não semearás no teu campo grãos de espécies diferentes. Não usarás roupas tecidas de duas espécies de fios”.Ora, então não se poderia ter vacas, cabritos e galinhas na mesma terra. Não se poderia usar roupa de algodão misturado com poliéster como se usa hoje.
Levítico 20,9-16: “Quem amaldiçoar o pai ou a mãe será punido de morte. Amaldiçoou o seu pai ou a sua mãe: levará a sua culpa. Se um homem cometer adultério com uma mulher casada, com a mulher de seu próximo, o homem e a mulher adúltera serão punidos de morte. Se um homem dormir com outro homem, como se fosse mulher, ambos cometerão uma coisa abominável. Serão punidos de morte e levarão a sua culpa. Se um homem tiver comércio com um animal, será punido de morte, e matareis também o animal.”
Veja quanta gente teria que ser morta hoje se fossemos seguir a Bíblia “ao pé da letra” de maneira fundamentalista; mas é lógico que isso não pode ser feito. Então a Bíblia errou? Não! O escritor sagrado narrou o que se vivia de costume no seu tempo; hoje não se pode viver isso `a luz da verdade e do bom senso. A moral evoluiu até que Jesus Cristo a levou à perfeição.
É por isso que a “Dei Verbum” do Concilio Vaticano II ensina que: “O ofício de interpretar autenticamente a palavra de Deus escrita ou transmitida, foi confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja, cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo”. (n.10)
E São Pedro nos lembra algo muito importante: “Nelas [Sagradas Escrituras] há algumas passagens difíceis de entender, cujo sentido os espíritos ignorantes ou pouco fortalecidos deturpam, para a sua própria ruína, como o fazem também com as demais Escrituras” (2 Pe 3, 16).
Prof. Felipe Aquino – www.cleofas.com.br

Ministros da Palavra

Arquivado em: Biblia — Prof. Felipe Aquino at 1:50 pm on terça-feira, dezembro 2, 2008
“Porque a palavra de Deus é viva, eficaz mais penetrante do que uma espada de dois gumes, e atinge até à divisão da alma e do corpo (…) discerne os pensamentos e intenções do coração” (Hb 4,12).
A santa Palavra é viva e eficaz, quer dizer, tem em si poder. Foi por ela que Deus criou o céu e a terra e todos os seres visíveis e invisíveis. Quando o Senhor diz: “Faça-se! (Fiat)”, tudo acontece como Ele quer. Por outro lado, São Paulo chama a Palavra de Deus de “espada do Espírito” (Ef 6, 17), uma verdadeira arma espiritual do cristão para enfrentar a ciladas do inimigo.
Infelizmente muitos cristãos a conhecem pouco e também pouco confiam nela. São Paulo não se cansava de recomendá-la. Disse a Timóteo, seu querido discípulo: “Toda a Escritura é inspirada por Deus, e útil para ensinar, para repreender, para corrigir e para formar na justiça. Por ela, o homem de Deus se torna perfeito, capacitado para toda boa obra” (II Tm 3,16-17).
Sem o conhecimento e a vivência dessa santa Palavra, não nos tornaremos perfeitos e não estaremos capacitados para a boa obra. Em outro lugar, o Apóstolo insistiu junto ao discípulo com veemência: “Eu te conjuro (…) prega a Palavra, insiste oportuna e importunamente” (II Tm 4,1).
Para que os cristãos conheçam e vivam a Palavra de Deus, é preciso que haja quem lhes pregue essa Palavra; lhes mostre a sua força e o seu sentido. E para tal é preciso pessoas preparadas que conheçam as Sagradas Escrituras, especialmente o Novo Testamento. São Jerônimo dizia que “quem não conhece os Evangelhos não conhece Jesus”.
Não é tão fácil conhecer a Palavra de Deus, especialmente o Antigo Testamento, escrito há mais de dois mil anos e durante cerca de dez séculos, no Oriente, por um povo com mentalidade diferente da nossa ocidental. Por isso, o Concilio Vaticano II ensinou na Constituição “Dei Verbum”, que “o ofício de interpretar autenticamente a palavra de Deus escrita ou transmitida foi confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja” (n.10).
Muitos se arvoram no direito de interpretar a Bíblia por sua própria conta, sem ouvir a Igreja, e cometem muitos erros, levando outros a caminhos tortuosos. São Pedro disse que nas Escrituras “há algumas passagens difíceis de entender, cujo sentido os espíritos ignorantes ou pouco fortalecidos deturpam, para a sua própria ruína, como o fazem também com as demais Escrituras” (2Pe 3, 16). Então, a Sagrada Escritura interpretada de maneira errada, pode levar a pessoa a perdição, ao caminho errado. É por isso que existem hoje milhares de igrejas e seitas que não foram fundadas por Jesus Cristo; surgiram sem a sua autorização.
Portanto, é necessário que os que se dedicam à pregação da palavra de Deus estejam preparados para isso; conheçam a Sagrada Escritura, façam um Curso Bíblico, conheçam a doutrina da Igreja, de modo especial o Catecismo da Igreja Católica, que é a interpretação católica e autêntica da Bíblia, colocado para nós em forma de doutrina.
Aquele que é ministro da Palavra, não pode ensinar “o que quer”, mas tem de ensinar o que a Igreja ensina, pois é em seu nome que prega.
Prof. Felipe Aquino – www.cleofas.com.br